Solidão é pretensão de quem fica
escondido
Fazendo fita

27.4.11

do pão para a boca:


«só uma raça que possui um tempo de vida breve pode sentir a ilusão de que o amor é eterno.»


somos feitos de bugigangas e casamentos.

Nesse exato momento sou alguns incensos, dois ovos e 1/2 de páscoa semi-abertos, uma garrafa de vodka, 33 livros à mão, uma notinha de supermercado rasgada, fotos no frigobar, a faísca de um isqueiro bic, uma gaveta cheia de rebeldia, um anel de pedra turqueza e algumas idéias no pensamento... Mas meus casamentos foram os que me fizeram chegar no que sou. Me lembro do meu primeiro casamento, de comum acordo, com o Pão molhado no leite, durou anos matinais. Lembro do seu cheiro acalentador e de ele estar simplesmente ali, ao acordar, nos meus mínimos níveis de suporte de vida.
 E desde então me vi casando e descasando inúmeras vezes. Porque a gente casa, né mesmo? Casa com o vizinho, com a cerca do vizinho, com o elevador do prédio, algumas vezes com a escada. Casa com aquele vestido lindo, com o carro dos sonhos, a casa. Arranja casamento na cantina do colégio, na academia, com a fatia daquele quiche do natural da esquina. Casa com a praia, com o trabalho, com os planos de viagem. Casa com os filhos, com os amigos, com os amigos dos filhos, com aquele livro. Já me peguei de casamento marcado com botas, com lençois de 800 fios, com a bolsa da hora. E juntei os trapos sem cerimônia com cachorros, seriados, novelas, miniséries e com aquele gato que virou sapo.
 No meu currículo matrimonial, a faculdade deixou saudade, alguns discos foram muito amados, aquele anel do Antonio Bernardo, e o cheirinho do colo da minha mãe ficou marcado. Ideais anulados, padrões quebrados, já fui casada até com uma árvore de abacate (abacateiro?).
Meus casamentos sempre foram pomposos, uns relâmpagos outros notórios. Me lembro de ser par de agenda que dizia tudo o que eu não dizia e de uns certos brincos, que quando eu os colocava, me sentia. Fui casada com algumas certezas, muitas histórias, um jeans que vestia como uma luva, portas, janelas, sonhos, pai, mãe, irmãos e sogra. Casei com certos problemas, algumas dúvidas, com poucas mentiras, bons vinhos, a Barbecue Pringles.......
 Hoje, sigo casada com a chuva do lado de fora.

19.4.11

Receita para se livrar da auto-ajuda


Poderia dizer bem baixinho que acho qualquer tipo de leitura de auto-ajuda um coice. Mas eu não sei falar baixinho, ou melhor, só o falo quando o acordo é ortográfico. Bom, e sei tambem que se eu não tomar um certo cuidado com o que vou escrever, posso cair no lugar-comum, numa quase receita da Ana Maria Braga. Mas desta vez, que se dane! Volto ao velho e bom texto de carnes humanas cortadas em fatias para que possamos melhor entende-las. Porque é lá onde se dá o encontro fatal, onde se é possível penetrar no lacro instante em que as cópias se fazem e se multiplicam, ou seria se dividem? (suspiro) Tomo um gole de café e digo mais uma vez, quer dizer, desta vez eu só penso 'Danem-se os objetivos!'. Agora que já comecei a falar, então vou falar do jeito que der. Sem aquela ladainha xarope de poesia de 5o categoria. Porque encontrar prazer na imbecilidade da auto-ajuda....aff. Eu sei, que lembra aqueles textos que te aplicaram de metafísica, quando você ainda tentava encontrar um sentido em 'Quem somos nós'. Mas amorzinho, enquanto você vive enclausurado no silêncio destes livros, que levam uma profusão de sentimentos a lugar nenhum. Eu sigo no prazer de sentir meus medos funcionarem desarticulados, sem soluções padrão aparente.
Então, você, com algum esforço, chega no segundo parágrafo do último capítulo, ávido para seguir a história...   quando meto um tiro no meu coração.




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14.4.11

e escreveu um monte de bobagens
naquele papel reciclado, que era uma bobagem tentar escrever
e deixou em cima daquela mesa que foi uma bobagem a gente comprar
e pensei na tamanha bobagem que tinha sido aquela relação
na bobagem do tempo perdido
na bobagem que foi me apaixonar
e logo em seguida, naquela minha boba choradeira,
lembrei feito uma boba do dia em que nos conhecemos
do bobo olhar dele, e do meu bobo aceno
até que percebi quanta bobeira nós demos
em tão pequenas e bobas situações
nossos bobos sonhos estavam caindo na bobagem do momento
bobear com o coração é um tormento
e lá estava eu, mais boba do que nunca..
repensando nas bobagens que a gente faz nessa vida
e nas chances que a gente tem de não dar bobeira
mas, se é pra ser boba, que seja de amor, não é o que dizem os bobos poetas?
E foi assim,
 sem bobear nos sentimentos
que desculpei aquele bobo, mais uma vez,
e salvei aquela bobagem que chamam casamento.

olha o aviãozinho!

Arranque as asas, os olhos, os miúdos e os reserve, para que sejam servidos frescos e ainda pulsando como aperitivo. O resto deixe marinar até que esteja pronto para o banho maria. Escalde a carne já sem essência.


Molho Pra Curar:
O famoso A entrega Sem Entrega. -iguaria raríssima (fora de catálogo)
Sirva-se em ponto de bala, antes de passar do ponto. Ou, se o espírito for livre, passe na brasa e à gosto no Salt Ar.
 

6.4.11

naquele instante
porcelana
pequenos cacos
meu
mundo secreto
revisito fragmentos
corte afiado
desígnio certo
- Fragile -
lê o pensamento



Valente.

3.4.11

autor desconhecido

Cartas de amor- vossos confessionários.
o roteiro:
As folhas eu tingí com meu sangue bem diluído, pra parecer papiro... Te mando com uma flor pequenina de cor carmim, de pétalas aveludadas, ela chega quase viva ainda, dentro do envelope. Vai solta no canto direito da primeira página, acho que a machuco menos assim.

Sem selar, passo-a por debaixo da sua porta, toco a campainha e fujo. Que acontece, que nunca cresço?

Você significa minha permissão.
o conteúdo:
"Te permito meu bem.. tudo o que quiser. Te permito não crescer, envaidecer, enlouquecer. Te permito me escrever cartinha de amor, abrir teu relicário de confissões, abre menina.. também me alimento disso. Só não permito que se entregue, nem a mim nem a outro, vez que eu não quero nem mereço. Minha alma não está disponível à sua salvação" .
a recíproca:
-- Nem a minha.

1.4.11

*não entres tão depressa nessa noite escura.
- mas eu vou.
urgência de bom dia ao pé do ouvido.

átomos à parte, eu ainda me encanto.

Toda vez que olho pro céu, é como se eu estivesse olhando para o passado. Do ponto em que me encontro, esses minúsculos brilhantes me remetem aonde tudo teve início. E aquilo que não compreendo, porventura, causa-me uma danada curiosidade. Um vasculhar de idéias e hipóteses experimentadas pela minha poética ciência. E num piscar, o que era fantasia torna-se o condutor da magnífica história de onde viemos, do que somos feitos, pra onde regressaremos.  E toda essa imensidão que me arremata, é tão mágica, tão mágica, que ironicamente percebo que é nas nossas limitações, numa certa forma de ignorância, que reside a nossa capacidade de encantamento.

'as coisas muito claras me noturnam'
Manoel de Barros