Solidão é pretensão de quem fica
escondido
Fazendo fita

31.8.11

Eat the pie or eat yourself.

 A história de nossos corações remendados
excendendo-se a si próprios
na iminência de um desastre
dar-te-ia de comer os meus fantasmas
ou então não temos outro remédio senão deixarmo-nos devorar sem testemunhas ilícitas. 
  






26.8.11

talvez por soar a algo exótico.

Calculo a distância da minha janela até ao chão da área da piscina do meu prédio. Um prédio de 21 andares, me encontro no décimo andar, calculo que estou a 29 metros da primeira e certeira colisão. Imagino o salto. Terei tempo suficiente para ser elegante, se elegância for alguma vez algo libertador. De olhos fechados, nos primeiros oitenta e cinco centésimos de segundo. Imediatamente depois desse tempo, iria começar a tomada de consciência do ato único e irreversível, do ponto de não retorno, toda a vida passando em flashes. E seria o momento onde começaria o grito - o medo. E no choque com a estrutura de pedras, o corpo nu, quebrado e rasgado, estirado numa estranha forma. A mancha de sangue escuro, por trás, vai aumentando lentamente o seu diâmetro, criando uma moldura visceral ao espectáculo grotesco. O cenário violento e brutal, agora vai tomando distância física e emocional do acontecimento...
 * Mas eu estou aqui em cima, a imaginar toda a trajetória em câmara lenta com um interesse puramente cinematográfico.


O suicídio físico parece drástico, catastrófico, difícil de entender, esquecer, perdoar, é perturbador.
O emocional também, a diferença é que não se vê .


17.8.11

as mortes dão frutos.

vou comprar um vestido simples e descomplicado para ir a Lua.
Como escafandro vou usar um aquário. 
Eu sei que me repito, mas é que sinto uma saudade que é
de esfolar,
irrespirável de colar à pele.
E o corpo explode duas vezes em proporções idênticas as que mastigo
a carne alheia.
Numa fina ironia, umas tantas risadas, e acabou-se, volto para casa. 

The rest is (fucked up) history.

13.8.11



Que a loucura, no fundo, é como tantas outras uma questão de maioria.*

Por princípio, a estupidez não segue regras. Há algum mérito nisso - não é assim tão fácil iludir a lógica. Onde a estupidez contacta com a loucura é nessa anarquia. O que as distingue é a consciência; mas o que as define é o olhar alheio. O problema - ou o encanto - está na dificuldade em traçar uma fronteira definitiva para cada um desses territórios. Há quem seja louco e passe por estúpido, há quem seja estúpido e passe por louco e há quem seja uma coisa ou outra e passe por nada. 

Alguns conceitos não deviam nunca ser conjugados no singular. E isso devia ser uma regra.


* Mário de Sá-Carneiro.

10.8.11

a julgar pela capa.

a obsce(sa)nidade saiu para arejar um bocadinho. 
Assim como o big bang, ela me causa vertigens, com suas explosões e o buraco negro, que parece engolir-me para que tudo renasça em uma perfeita simbiose temporal. 
Fugira em caráter de urgência. E mesmo com a correria, em delicadeza me deixou um bilhetinho colado ao espelho- como boa menina - que dizia assim:

'outro espaço, outra exigência'

passou uma semana. e mais um dia. passou? passou.


2.8.11

'E nada será teu senão um ir até onde não há onde'


Alguns olhares depois, 
e a boca já estava escaldada.
O solo fértil tecia pequenas delicadezas
de encontro imaginário.
Fundiam-se toda vez como pólen, abelha, zangão e baixarias
Se tinha lua, Se fazia dia
e a boca já escaldada pedia:
- (re)torna fantasia.
Na selva de pensamentos; Um tufão, um broto, um rio, lama, chuva, areia movediça.
E se me permitem todo esse palavreado colorido descascado- na natureza nada se cria.