Solidão é pretensão de quem fica
escondido
Fazendo fita

30.1.12

viver é arregaçar verbos

há quem queira arrebentar minha cara por ser intensa e derrubar faíscas por aí.
não decoro afirmação, não tenho ritmo para isso. É sim ou é não. A certeza é essa força de libertar a alma de grades e correções. Não me interprete mal, meu bem. É só um jeito torto de existir em linhas curvas de contraste sobre a vida. Não rodopio ao umbigo. É todo esse universo. É toda essa coisa de melodia incerta. Eu não vim aqui pra ensinar, minha gente. Eu vim aqui experimentar. Numa vontade de arrancar a realidade, seja como for. Derramar as palavras enquanto você segura esse riso frouxo com medo de perder metade da decência, com medo de revelar dor. E te digo mais, não te acompanho nessa preguiça de filosofar e deixar marcado o amanhã. Porque enquanto eu me desembalo, vocês marcam a própria testa.

- Vem, que a alma ultrapassa!

26.1.12

entre o dia e a noite
espasmos no vazio
manuseando a inutilidade da ignorância
essa indecorosa armadilha do eco
ego
eco
Em sentido algum - planam todos
braços dados numa só voz
contrariando a quietude do vigésimo frame acelerado
acorrentado
dos que Tem
 fome.

num futuro, o corpo exaurido transcenderá o novo começo.

Amém.


20.1.12

excuse me, while i kiss the sky

Se conheceram no futuro
se reconheceram no presente
se apaixonaram para sempre.
Não falam de amor nem do contrário, sussuram beijos que se
sonha, dormem abraçados
desafiam o tempo.
No passado foi-lhes dado a missão
de construírem seu amor
peça por peça até alcançarem o céu,
rasgando as nuvens e pintando,
 antes que a noite chegue,
um coração no lugar da lua.

Desde então..

Todos os dias 
consolam os amores errados,
antes que a noite acabe.


17.1.12

pelas gargalhadas, lanches noturnos e flores

teve um dia imPECÁVEL para além de todos os vocábulos. De poderes especiais ao peito, de jornada contínua, passou mais um dia imPECÁVEL. Usufruiu do tempo oblíquo, tecendo longos pensamentos, cumprindo metade e substituindo o restante. O que sobrou, fez prática no que a alma pedia e o corpo acusava.
imPECAVELMENTE, como tudo caminhava, pôs-se a agir em um plano de hu.ma.ni.za.ção. Em certo momento, visto que, essa ação seria sem retorno ou fim, deu um grito de valor incomparável a condição humana:
- Amanhã serás de papel !
E hoje, do alto de sua imPECÁVEL mente, parte do tempo investido virou passado e segue escrita.
Tudo peca, tudo passa. E um dia serei florista. Distinta e singular, poderás vir em sonho me visitar.

12.1.12

Desfibrilador
livrai-me da morte
que por sorte
ainda sinto 
a dor do 
amor
Choque essa legião adormecida
despedaçada, apodrecida
com minha pulsação lenta e esperançada

- Já tinha morrido há dois dias e só ontem soube, quando sentiu nos seus olhos o pesar.

Nada de flores em minha despedida
nem religião
Declaro enfim
que meus batimentos serão os novos mandamentos
seguidos
sentidos
enaltecidos
a tal linha verde limítrofe do meu último virtuosismo cardíaco
que no ensaio do fim
traduzida será
  em cartas anônimas
de amor



 o carteiro, naquele instante derradeiro, se viu responsável por toda humanidade e
o paraíso, no mundo inteiro.
Hoje, todos que aqui habitam,
 tem o direito a pelo menos uma carta de amor
 por dia.

11.1.12

a seu tempo.

nasceu com um pequeno defeito e essas coisas de coração, tudo em segredo.
Ganhou corpo, aprendeu truques da vida e partiu. Só não sabia que seu coração crescia em demasia, mais que o previsto no espaço tempo que lhe cabia. Foi vivendo, já que não tinha outro jeito, com um peso tremendo dentro do peito. Cercou-se de gente, de verdades endurecidas, criou filho, trabalhou sem parar, reuniu memórias e certezas...até encurvar-se, sem saber o que tanto lhe doía no centro. Suas fraquezas, mandava pro vento. Contava a todos seus bem-feitos e sua coragem brutal, trazendo a mão sempre ao toráx. Eis que, já franzina e com idade avançada, descobriu que tinha um coração imenso. Assustada com toda essa ideia de sentimento, da gravidade no momento, na hipótese de não ter aproveitado toda aquela sangria, resolveu adiar tudo o que seu bolso gritava e viver da qualidade de quem lhe queria bem.
 Hoje, o coração imenso é seu fio condutor, suas posses, sua densa sabedoria. Ela, ainda leva as mãos ao toráx quando conta suas valentias. Mas agora, tudo é doce.

Que ele pese, leve e preserve.

6.1.12

espero que saibas o que esses verbos significam em mim.

Pelas pernas.
Que Dois mil e doze me suba pelas pernas em abraços que nada neguem. E me carreguem, me recarreguem enquanto meus olhos deslizam no calendário por todos os desejos. Quero ver meu coracão afiado bater dentro de você, feito estilete, Dois mil e doze. Segurando-me pelos cabelos, apertando meus defeitos, e sufocando a lembrança viva do meu pensar confuso.
É verdade que o tempo parece curto, e que na maioria das vezes eu insisto em manter a venda nos olhos, deve ser medo de revirar todas as canções antigas deixadas numa gaveta qualquer. Arrisco-me ao menos uma vez em tua porta aberta, Dois mil e doze. Bagunce-me. Reavalie-me. Me encosta na parede. Me desconforme. Quero sentir o gosto transformador de me ver arrancada das minhas certezas.
Descarada, errante, pequena para os teus sonhos grandes e para as esquinas do seu mundo.
Dois mil e doze, não é tarde. nem falso alarme.
E prometo, deixar-te decifrando nossa futura despedida.