Solidão é pretensão de quem fica
escondido
Fazendo fita

20.3.12

Depois da concentração perdida

Eu já estava completando o quinto copo de ansiedade naquela noite de conversas a-fiadas, naquele ponto em que a bebida fala, quando ele apareceu. Eu estava indo para qualquer lugar, pela simples satisfação de estar indo. Gosto de me sentir livre de escolhas. Mas colocar um verbo no plural, é o tipo de coisa que me deixa imensamente feliz, tanto quanto tomar cerveja do copo dele, tanto quanto o refrão rasgado da música de 82 que não sai da minha cabeça. Agora éramos dois, um sós*
Descobri que ele tem aquela violência sutil que me agrada, descobri pele, descobri a voz quente, realinhei meus chacaras. E eu só queria encontrar o zíper para abrir o peito dele. Fissura. Sabe o que significa fis-su-ra, sussurei no ouvido dele. Gosto de gente que se entrega, gosto de gente que gosta de mim, gosto de gente que entende o que é fissura. Foi assim que ele me deixou - Fissurada.
Me desarruma. Anda, me desarruma. Esperei a semana inteira, uma vida inteira, por esse momento de novo. E estava tudo em movimento - minha blusa, meu cabelo, minhas pernas, tudo me apertava contra ele. A favor dele.
Saiba que para escrever essas linhas preciso me desconcentrar de qualquer distância. Me jogar no buraco do peito, pintar meus olhos para combinar com suas cores diferentes, ajeitar meus passos com minha cintura leve. Ouvir a música certa.
 E falo de você para as asas das minhas costas.

quero começar tudo de novo. Voa comigo?

14.3.12

libertar, ultrapassar, respirar e partir

Era uma quarta e o sol brilhava como se os céus só soubessem festejar.
Eu e meu amor, amor meu, de línguas antigas, chuvas internas, brinquedos e vendaval. Estar às três da tarde viva, estar às três da tarde com ele, estar às três da tarde num sentido de vaidade conjunta por sermos a coisa mais bonita dessa  cidade. E recorto nossas fotografias pra colar na folha branca que impressa meus dizeres, no serão virtual que propago minhas verdades. Oh! Doce que és maternidade, que enche meu peito de força que eu nem sonhava arrebentar na cara de quem pesa a vida. E digo pra você, sorrindo o laço dado no tênis:

- Filho, o tempo não existe. Eu te amo pra sempre.

6.3.12

antes que tudo se reduza a pó,

encontrei o meio de não me afastar do que vivo intensamente
Escrevo.
Transformo-a em imortal,
vivência minha
lida sua
re-lida minha
repassada nossa.
Em vão, um sonhador remexe em seus antigos sonhos
em busca de uma única fagulha que possa
remontar
em seu coração
aquelas batidas perdidas no espaço-tempo,
 que é cada momento.
Nessa vida tudo é em vão, posto que é única, singular e efêmera.
Mas tem nada não,
continuo me jogando no que me arrebata em sangue
e esfregando minhas loucuras
na cara de quem passa os olhos sob.

'os sonhos tambem precisam ser substituídos' diria Fiódor em Noites Brancas (e raras)


sem medo.