Solidão é pretensão de quem fica
escondido
Fazendo fita

11.8.10

revirando meu baú, mais um dos que escrevi em 2009

Ele me chamou em meio a um temporal destes de verão. Na rua, encharcado, me acenava insistentemente. Eu estava ordinariamente segura e sequinha em minha janela a observar a chuva, esperando não sei bem ao certo oquê, sentindo não sei bem ao certo o quê. E não pude desprezar tamanha energia que vinha do olhar daquele homem. Não vou dizer que sua aparência inspirava segurança, ou sanidade. Mas havia algo mágico naquela cena. A sua intenção estava impressa no ato - Decidido, destinado, se aproximou em passos largos e me entregou, segurando em uma das minhas mãos um pedaço de papel, um pouco borrado e amassado - pudera, a torrencial água que descia do céu naquele momento.- Nunca o tinha visto, desconheço o tom de sua voz, mas desde então trago aquele papel em meu bolso, aquele instante em minha memória e não perco uma chuva de verão, em casa, olhando pela janela.



Reproduzo agora o bilhete, que sossegou a minha espera.

Cara Michelle,
Quantos Séculos Precisa um Espírito para Ser Compreendido?


Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, - passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. “Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?” – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela. Por isso não se acometa. Viva e esqueça de ser compreendida.


Friedrich Nietzsche

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fale o que pensas... Ja que me olhas