Calculo a distância da minha janela até ao chão da área da piscina do meu prédio. Um prédio de 21 andares, me encontro no décimo andar, calculo que estou a 29 metros da primeira e certeira colisão. Imagino o salto. Terei tempo suficiente para ser elegante, se elegância for alguma vez algo libertador. De olhos fechados, nos primeiros oitenta e cinco centésimos de segundo. Imediatamente depois desse tempo, iria começar a tomada de consciência do ato único e irreversível, do ponto de não retorno, toda a vida passando em flashes. E seria o momento onde começaria o grito - o medo. E no choque com a estrutura de pedras, o corpo nu, quebrado e rasgado, estirado numa estranha forma. A mancha de sangue escuro, por trás, vai aumentando lentamente o seu diâmetro, criando uma moldura visceral ao espectáculo grotesco. O cenário violento e brutal, agora vai tomando distância física e emocional do acontecimento...
* Mas eu estou aqui em cima, a imaginar toda a trajetória em câmara lenta com um interesse puramente cinematográfico.
O suicídio físico parece drástico, catastrófico, difícil de entender, esquecer, perdoar, é perturbador.
O emocional também, a diferença é que não se vê .
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Caramba! Esses dias estava assistindo no youtube os "jumpers" do World Trade Center, que resolveram se jogar das janelas diante daquela situação tenebrosa. Fiquei o dia inteiro impressionado e imaginando no que aquelas pessoas estavam pensando: nos filhos, nos amores, nos sonhos. E me assombrei, pois entrei na onda desse pesadelo. E o seu texto me fez lembrar meu irmão, que se jogou do 12º andar por causa de uma namorada. Várias foram as vezes, após a morte dele, que eu ficava imaginando exatamente o que ele havia sentido. E me identifico com seu texto de hoje.
ResponderExcluirE o que eu mais imaginava era se houve arrependimento e perdão no meio da queda e se aquele filme da vida havia sido projetado em sua mente.
ResponderExcluirAdorei "The grand finale"... Bravo!! Digno de uma moldura...
ResponderExcluir"O suicídio físico parece drástico, catastrófico, difícil de entender, esquecer, perdoar, é perturbador.
O emocional também, a diferença é que não se vê ".
Pois é Ilan, não faço idéia do que possa ter passado pela cabeça do seu irmão, há que se desistir de tudo para que a vida se esvaia em um único salto. Muito triste. Sinto por ti.
ResponderExcluirO ponto do texto, aquele em que quis enfiar o dedo na ferida é do tal suicídio que não se vê e que cometemos ao longo da jornada... Beijos
*Thanks irma. Te amo!